Ditadura: Três militantes de Mauá foram capturados e mortos.
(Memórias da Cidade de Mauá)
Na escuridão vivenciada pela história política brasileira, com o golpe militar de 31 de março de 64 , insurgiram diferentes formas de resistência o País : tanto por meio da arte cênica – com o Centro Popular de Cultura da UNE –quanto pela luta armada ; ou nascidas nos salões das igrejas , onde se aplicavam os valores do evangelho à realidade social dos trabalhadores.
Mauá não ficou á margem desse processo. No reduto cristão, por exemplo, destacaram-se o bispo Dom Jorge Marcos de Oliveira e os padres José Mahaum e Alfredo Praxedes, entre outros, líderes na luta pela democratização, contra a carestia e a frente da organização dos moradores em suas legítimas reivindicações sociais. Por sinal no Zaíra, a Sociedade Amigos de Bairro aprofundou sua atuação organizando em 1963 um núcleo da Ação Popular (AP).
Constituída a partir dos quadros da Juventude Operária Católica, a AP , além da liderança de Praxedes, contou com Olivier Negri presidente da SAB , entre 1961 e 1962 , preso e torturado pelo regime militar , assim como Raimundo Eduardo da Silva e tantos outros militares locais.
Raimundo, criado no bairro, ao longo dos anos 60 estudou no Colégio Estadual Visconde de Mauá. Mais tarde, entre 1967 e 1970, na militância da AP, atuou na liderança do movimento operário nas seguintes empresas: Laminação Nacional de Metais, em Santo André; Fertilizantes Capuava e Ibrape, também em Capuava . Preso em dezembro de 1970, foi transferido para as dependências do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS-SP) onde, de acordo com seus companheiros, foi torturado e morto.
Já segundo o atestado de óbito emitido pelo Hospital Militar, morreu devido a edema pulmonar agudo. Além da Ação Popular, jovens de Mauá ingressaram em outras duas organizações. A primeira, denominada Ação Libertadora Nacional (ALN), facção dissidente do Partido Comunista Brasileiro ,liderada por Carlos Merighella , na qual atuou Francisco Seiko Okama. Operário metalúrgico, Okama foi ,segundo relatório sobre presos políticos , metralhado por agentes do DOE-COB, numa emboscada, na capital, em 15 de março de 1973. Na requisição do exame do corpo, enterrado no cemitério de Mauá , os militares inscreveram a letra "T" , indicando tratar-se de terrorista.
A segunda, o Partido Operário Revolucionário Trotskista (PORT) composto por militantes contrários á luta armada. Em suas fileiras, atuou Olavo Hansen. Morador do Jardim Mauá, desde 1952, iniciou a militância política na USP, ao ingressar no curso de Engenharia de Minas. Logo após o golpe, foi preso e obrigado a abandonar os estudos. Em liberdade , empregou-se na Fertilizantes IAP e passou atuar no Sindicato dos Químicos de Santo André.
Novamente preso, em 1º de maio de 1970, Hansen foi, de acordo com o testemunho de companheiros, incessantemente torturado, entrando em coma no dia 8 do mesmo mês. Transferido para o Hospital do Exército, no Cambuci, em São Paulo , teriam lhe injetado Paration , inseticida , simulando suicídio . Somente cinco dias depois, a família foi informada da morte e seu corpo entregue num caixão lacrado.
A bibliografia sobre o tema é vasta. Entre outros, o leitor pode consultar , acerca dos presos e desaparecidos políticos , Brasil : nunca mais , elaborado pela Arquidiocese de São Paulo , com prefácio de Dom Paulo Evaristo Arns , publicado pela Vozes , em 1985, e Dos Filhos deste Solo, escrito por Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio , publicado pela Editora Perseu Abramo , em 1999. Já quanto a conjuntura política e as forças sociais em conflito , deve-se analisar o importante trabalho de René Dreifuss , em 1964. A Conquista do Estado, Vozes, 1981.
Por Jéssica Silva
(Memórias da Cidade de Mauá)
Na escuridão vivenciada pela história política brasileira, com o golpe militar de 31 de março de 64 , insurgiram diferentes formas de resistência o País : tanto por meio da arte cênica – com o Centro Popular de Cultura da UNE –quanto pela luta armada ; ou nascidas nos salões das igrejas , onde se aplicavam os valores do evangelho à realidade social dos trabalhadores.
Mauá não ficou á margem desse processo. No reduto cristão, por exemplo, destacaram-se o bispo Dom Jorge Marcos de Oliveira e os padres José Mahaum e Alfredo Praxedes, entre outros, líderes na luta pela democratização, contra a carestia e a frente da organização dos moradores em suas legítimas reivindicações sociais. Por sinal no Zaíra, a Sociedade Amigos de Bairro aprofundou sua atuação organizando em 1963 um núcleo da Ação Popular (AP).
Raimundo Eduardo da Silva |
Raimundo, criado no bairro, ao longo dos anos 60 estudou no Colégio Estadual Visconde de Mauá. Mais tarde, entre 1967 e 1970, na militância da AP, atuou na liderança do movimento operário nas seguintes empresas: Laminação Nacional de Metais, em Santo André; Fertilizantes Capuava e Ibrape, também em Capuava . Preso em dezembro de 1970, foi transferido para as dependências do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS-SP) onde, de acordo com seus companheiros, foi torturado e morto.
Francisco Seko Okama |
A segunda, o Partido Operário Revolucionário Trotskista (PORT) composto por militantes contrários á luta armada. Em suas fileiras, atuou Olavo Hansen. Morador do Jardim Mauá, desde 1952, iniciou a militância política na USP, ao ingressar no curso de Engenharia de Minas. Logo após o golpe, foi preso e obrigado a abandonar os estudos. Em liberdade , empregou-se na Fertilizantes IAP e passou atuar no Sindicato dos Químicos de Santo André.
Olavo Hansen |
A bibliografia sobre o tema é vasta. Entre outros, o leitor pode consultar , acerca dos presos e desaparecidos políticos , Brasil : nunca mais , elaborado pela Arquidiocese de São Paulo , com prefácio de Dom Paulo Evaristo Arns , publicado pela Vozes , em 1985, e Dos Filhos deste Solo, escrito por Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio , publicado pela Editora Perseu Abramo , em 1999. Já quanto a conjuntura política e as forças sociais em conflito , deve-se analisar o importante trabalho de René Dreifuss , em 1964. A Conquista do Estado, Vozes, 1981.
Por Jéssica Silva
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