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15 de out. de 2012

Entrevista com Antônio Carlos Monteiro - Parte 1

Entrevista com Antônio Carlos Monteiro - Parte 1

Por Gabriel Arruda da Silva

Antônio Carlos Monteiro, o Tony, ou também pelas siglas ACM, referentes ao seu nome, já trabalhou na finada revista Metal & Roll no decorrer dos anos 80. Na mesma década, partiu para a respeitada revista Rock Brigade, onde permaneceu durante muitos anos. E desde 2007, até os dias de hoje, vem sendo redator da mais e tão aclamada revista de Heavy Metal & Classic Rock do Brasil, a Roadie Crew. E quando não há compromissos com a mídia impressa, tira um tempo para escrever no Portal Megaphone e Conversa Pós-Créditos. Jornalista e músico, Tony Monteiro dá uma pausa nos seus trabalhos para um bate-papo bem legal sobre vários assuntos e,é claro, sem escapar da sua paixão de escrever sobre rock e do amor que sente pela sua banda favorita, os Rolling Stones.

Obrigado por nos atender e fazer essa entrevista. Antes de começar, para quem não o conhece, apresente um pouco da sua pessoa e sobre o seus trabalhos como redator para os caros leitores.
ACM:
Bom, eu comecei a escrever profissionalmente sobre rock em 1985, nas extintas revistas Roll e Metal, ficando por lá até 89. Depois, eu fui para revista Rock Brigade, onde permaneci por lá há 18 anos, ficando até 2007. E, em seguida, me transferi para a Roadie Crew onde estou até hoje.


A profissão de jornalista não é a mais atraente para os jovens acadêmicos, achando que a profissão é a menos lucrativa que existe. Como surgiu a sua paixão de escrever sobre música? Já que muitos ingressam no jornalismo esportivo por conta dos vínculos televisivos.
ACM:
Estou no jornalismo musical porque tenho uma paixão pela música desde sempre, de fato dentre as profissões ditas como as mais importantes, como advogado, médico e engenheiro, o jornalista é o menos valorizado de todos. Inclusive agora, com a questão da não obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão, a coisa ficou menos valorizada ainda. Por outro lado, com relação a isso, muitas empresas ainda estão contratando pessoas que tem a formação na faculdade. É uma das profissões que você já tem essa vocação e é uma coisa muito difícil de fazer se você realmente não gostar do negócio. O jornalismo é uma espécie de vicio para gente.


É complicado, hoje em dia, achar algo legal e satisfatório para criar um material impresso. Que tipo de material raro que você conseguiu e ficou para cima e para baixo atrás dele para publicar nas revistas na qual já passou?
ACM:
Na verdade, com relação a isso, é aquela história do fã e o profissional se confundirem um pouco. Você fica atrás das informações, principalmente porque você gosta do negócio. E como você trabalha com isso, as coisas acabam funcionando pelos dois lados. Hoje em dia não temos dificuldade nenhuma! Quem está com dificuldade de procurar alguma coisa é porque não está procurando direito. Hoje, com dois cliques no mouse, você descobre o que quiser! Antigamente era muito difícil descobrir qualquer tipo de informação. Eu lembro que demorei um tempão para confirmar que o John Boham (falecido baterista do Led Zeppelin) tinha morrido. Ninguém tinha essa informação de uma maneira segura e concreta. Por outro lado também, às vezes, acontecia de a gente dar um furo, que hoje não existe mais isso. "Eu fui o primeiro jornalista do Brasil a divulgar a morte do Cliff Burton (falecido baixista do Metallica), que por um golpe de sorte eu descobri que tinha acontecido alguma coisa, fui atrás e acabou se confirmando o acidente." Hoje não tem mais isso. Se acontecer alguma coisa, em minutos já está na internet com foto e com várias versões diferentes.


É impossível a molecada hoje não deixar de sonhar em ser um jogador de futebol, mas o jovem roqueiro quer comprar o CD da sua banda favorita e se espelhar no seu ídolo para aprender a tocar algum instrumento e montar uma banda para fazer sucesso em todos os cantos do mundo. E o jornalismo é quase um último plano para eles. O que falta para a profissão jornalística vir à tona como um atrativo principal? Porque, na minha opinião, é a maneira mais fácil de ficar cara-a-cara com o ídolo.
ACM:
Sim, mas você não pode ter isso como objetivo. É lógico que você continua sendo fã, não há dúvidas sobre isso. Quando faço uma entrevista com alguém, que eu gosto bastante, não vejo nenhum problema quando termina a entrevista em pedir um autógrafo, uma foto ou qualquer coisa do tipo, mas isso não pode ser um objetivo. "Você não pode partir para essa carreira pensando em ser jornalista musical porque você vai encontrar com o seu ídolo". E o seu motivador nisso ai é no sentido de fazer parte daquilo, de você ter todo o direito de dar a sua opinião. E acredito, simplesmente, que é uma coisa um pouco mais profunda. E eu acho que esse é o grande motivador! Se você não é um artista e está em cima do palco, você vai fazer a sua parte comentando, opinando e formando opinião nas pessoas. Nós somos formadores de opinião e que não é por acaso que usamos essa expressão.


Existe sempre um prazo de entrega para cada material feito. Já teve momentos que você passou noites em claro tentando concluir uma publicação?
ACM:
Isso acontece o tempo todo. As duas grandes brigas que o jornalista tem na vida dele, são contra o tempo e o espaço. O espaço que dão para a gente é sempre menor do que precisa para dar o recado ao leitor. E o tempo é sempre mais curto do que precisaria para fazer, então a pessoa vira a noite escrevendo e trabalha final de semana. Isso faz parte da rotina. Quem não estiver disposto a encarar esse tipo de sacrifício,que não é nem uma ou duas vezes, é constantemente, não deve abraçar essa profissão, essa é a moral da história. Isso acontece diariamente com a gente.


O que é preciso para um garoto que está começando querer entrar no ramo de jornalismo musical? E quais os tipos de serviços impressos que você mais gosta de fazer?
ACM:
A mídia impressa é a minha especialidade, que é com revista. Apesar que eu já trabalhei em várias áreas. Inclusive, eu fui assessor de imprensa, mas eu gosto mesmo é de escrever em revista. Jornal diário é um pouco diferente, que é um pouco mais corrido e impessoal. A minha grande paixão é a revista. Para o jovem, hoje em dia, é uma tarefa um pouco mais fácil, porque tem muitos blogs colaborativos por ai, então eu sempre recomendo para todo mundo: 'não tenta começar no topo, de cima, na revista principal e essa coisa toda, porque é muito concorrido e é um funil muito estreito'. Existe muita procura para pouca oferta, mas por outo lado tem blogs e sites, a maior parte deles são colaborativas. E é dai que buscamos gente. Quando precisamos de alguém, é nesses veículos que vamos buscar. E o caminho é realmente esse, para começar a ser colaborador de alguns blogs e sites de rock. E são aqueles velhos componentes que vão selecionar tudo: competência, um pouco de sorte e postura adequada. Não basta saber escrever para você se dar bem nesse meio, mas você tem que saber se portar, por exemplo, na frente de um ídolo. Tem que ter ética, porque é muito fácil não ter ética nesse meio e que, talvez, você está falando bem ou mal de uma pessoa. E você recebe proposta para ser tendencioso, mas só que isso vem à tona com muita rapidez. E a ética é muito importante para quem está se metendo nessa vida.

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