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22 de out. de 2012

Entrevista com Antônio Carlos Monteiro - Parte 2

Entrevista com Antônio Carlos Monteiro - Parte 2

 


Em 85, você trabalhou na revista Roll, Metal e Mix, que eram a mesma editora. Durante dezoito anos colaborou com a revista Rock Brigade, registrando vários acervos de rock e heavy metal. E de 2007, até hoje, vem sendo o redator da revista Roadie Crew. Qual a sua avaliação sobre esses três vínculos de mídia musical impresso?
ACM: Na época em que eu trabalhei, cada uma dessas revistas era o que tinha de mais importante no momento, isso foi muito interessante. A Roll & Metal foi à primeira revista de heavy metal do Brasil. Na verdade, ela era uma franquia de uma revista argentina de mesmo nome, até o logotipo era igual. Naquela época eu costumo dizer que todo mundo estava aprendendo: as bandas brasileiras de heavy metal estavam começando, todo mundo estava aprendendo a tocar instrumentos, produtores aprendendo a produzir e nós aprendendo a fazer revista. Foi um aprendizado! Se você pegar aquela revista, hoje, você vai ver que era uma coisa até simploria, não posso negar isso. Mas as condições em que era feitas nessa revista, em definir alguma informação que existia na época, foi um trabalho brilhante. E foi uma escola tremenda para mim, porque aprendi bastante por lá.

Na Rock Brigade não fui exatamente um colaborador, eu coordenei a redação por lá durante muito tempo. Eu comecei como colaborador e depois passei por outras funções lá dentro. A Rock Brigade começou na mesma época da R&M, mas só que depois e que era um fanzine. E depois ela foi crescendo e, no final dos anos 80,que foi a época que entrei , que ela atingiu o seu auge, não é porque entrei e que é difícil pensar nisso, porque foi uma coincidência. E ela foi, durante muito tempo, a principal revista de rock do Brasil fácil, conhecida lá fora e etc. E depois, infelizmente, com o advento da internet e da informação ágil, exigiu uma mudança de postura dos órgãos da imprensa escrita, e a Brigade demorou um pouco para reagir a isso e acabou. Lógico que ela não acabou, ela ainda existe. Esse ano só saíram duas edições, que antes era mensal, era uma coisa quase que religiosa. Ela teve o seu auge, não soube se adaptar e pagou o preço por isso.
E a Roadie Crew está ai até hoje e, felizmente, ela está indo muito bem, porque ela conseguiu fazer esse processo de adaptação. E você pode observar que as matérias sempre trazem muitas seções: matérias aprofundadas, matérias de pesquisas, matérias investigativas sem muita preocupação com a notícia quente e urgente, porque isso não é mais a função da imprensa escrita e sim dos vários meios de comunicação que existem através da internet. Poucos sabem que a sua saída da Rock Brigade foi por questões salariais. Explique um pouco mais sobre essa saída e se, ainda, está em fase judicial?
ACM: Não gostaria de falar muito sobre isso... A saída não foi só por causa disso. Isso também foi um dos motivos, mas foi tudo resolvido na justiça e não tem mais nenhuma pendência a esse respeito.

Como veio o convite de trabalhar para a Roadie Crew?
ACM: Foi algo que me fez muito bem. Eu tomei a decisão de me desligar da Rock Brigade, porque não estava compensando para mim sob vários aspectos. E assim que eu fiz isso, comuniquei paras as pessoas com quem tenho um bom relacionamento na área musical dizendo que estava no mercado. E três dias depois, eu recebi um convite para participar de uma reunião na grande São Paulo,eu não moro em São Paulo, eu moro em Campinas,com a equipe da revista. E, depois disso, eu comecei a ser colaborador da RC. E depois de um ano e pouco, houve a saída de um redator e precisava de uma pessoa para substituí-lo, e me convidaram para assumir essa função. São quase quatro anos como redator da revista. É um trabalho que gosto muito de fazer! É muito bom trabalhar nela e as pessoas são ótimas. Eu entrei numa equipe que já estava formada, fui recebido sem nenhum tipo de problema e de braços abertos. É muito bom trabalhar com todo pessoal da revista.

 O crítico musical sempre recebe comentários por alguma publicação feita em cada edição da revista Roadie Crew na coluna 'Roadie Mail', que é aberta exclusivamente para os leitores. Quais são os tipos de comentários que você recebeu durante esses cinco anos de Roadie Crew, desde positiva até a negativa?
ACM: Eu já recebi de tudo. Eu costumo dizer, para a gente que trabalha como crítico musical é meio como juiz de futebol, tem que ter duas mães, porque aparece xingamento direto. E não adianta levar isso para o lado pessoal. E logo que comecei na Roadie Crew, teve um fã-clube do Nazareth que não gostou do comentário de um vídeo que eu fiz. E eu não estava reclamando do vídeo em si, eu estava reclamando da edição do vídeo, propriamente dito. Não estava falando da banda e sim do produto, até porque eu sou muito fã do Nazareth e entrevistei-os recentemente. E os caras ficaram muito revoltados e foi aquela coisa desproporcional, porque você percebe que é aquele fã que não pensa muito. E eu tive que ser um pouco irônico na resposta que eu dei para os caras, que tenho certeza que eles não gostaram nem um pouco. E também tem muitas pessoas que elogiam, porque leram sobre as bandas de que gostam. E eu já cheguei num ponto que posso, mais ou menos, em escolher o que eu faço porque falo sobre o que mais entendendo e admiro. E fica com uma interação bem legal entre leitor e a gente que escreve sem problema nenhum.

E já que eu entrei no assunto comentários, como está sendo a receptividade do Background dos Rolling Stones, que é de sua autoria?
ACM: Está sendo muito legal. Eu fiquei sabendo que pessoas estão comprando a revista só por causa desse Background, que está sendo um prazer imenso fazer, porque é a minha banda favorita desde sempre. Eu gosto muito dos Stones. O primeiro compacto que comprei deles foi em 68, quando eu tinha 10 anos. E está sendo muito legal fazer, porque como eu tenho um material muito vasto sobre a banda, dá para contar umas histórias que pouca gente conhece e dá para esclarecer algumas lendas. E vamos para a quarta parte, vamos esclarecer outras coisas daqui pra frente. E é uma história bem interessante para ser contada, que está sendo um prazer muito grande em fazer.

Você mora na cidade de Campinas, interior de São Paulo, quase 100 km da capital paulista. Como você trabalha com a equipe da Roadie Crew a milhas de distância da grande São Paulo?
ACM: Através da internet, fazemos reuniões de pauta por MSN e Skype. Isso não tem mais problema! Para você ter uma ideia, eu fui convidado para fazer um programa de rádio, mas só que ele não está no ar ainda, porque estamos gravando algumas edições antes de começar a colocar no ar. E o dono da rádio mora em Salvador (BA). E a gente faz reunião toda semana, que por Skype se resolve tudo. Nesse aspecto, a internet foi uma maravilha na vida da gente. E com relação à Roadie Crew, uma vez por mês, que vai ser amanhã por acaso (N.R.: a entrevista foi realizada no dia 26 de setembro), nos encontramos pessoalmente para fazer a pauta da edição de outubro e resolver sobre várias questões da revista, que precisam ser debatidas pessoalmente. Estou pertinho de lá e, em uma hora e meia, já chego por lá. E é muito legal encontrar com pessoal, porque são bons amigos que eu tenho lá.

Além de ser redator, você escreveu o livro de "Fã para Ídolo" do baterista Aquiles Priester, exato?
ACM: Não foi bem assim. Na verdade o autor do livro é outra pessoa, que é uma moça e não sei o nome dela de cor. O que eu fiz foi o seguinte: o Aquiles tinha esse projeto de fazer esse livro com um amigo dele que é escritor, que acabou não podendo fazer e que passou para essa terceira pessoa. Esse rapaz que ia fazer a redação precisava do material bruto. Eu colhi esse material do Aquiles através de entrevistas, que eu tenho elas aqui até hoje. Acho que são umas vinte fitas e vinte horas de conversa que a gente teve para colher esse material, então eu fui o responsável por coletar o material bruto e passar para o redator. Inclusive, o Aquiles me pediu para fazer isso porque ele queria dar esse depoimento para alguém com quem tivesse uma maior intimidade.E foi um trabalho bem interessante. E pelo que eu sei, tem dado uma boa repercussão para ele. E isso me deixa feliz, porque é um cara que admiro muito e que merece todo sucesso que está tendo.

Falando sobre música, e que milhares de vezes já respondeu esse tipo de pergunta, quando foi que despertou a sua paixão pelo rock/heavy metal? E com quantos anos começou a tocar guitarra?
ACM: Eu fui conquistado totalmente pelos Beatles, isso foi, mais ou menos, em 65. Quando eu ouvi os Beatles falei: 'É isso que eu quero!' E um pouco depois, quando tinha 13 anos, eu ouvi o primeiro disco do Alice Cooper que saiu aqui no Brasil, chamado Killers (1971). E foi ai que a coisa realmente bateu forte, que era aquilo que eu queria fazer e estou fazendo até hoje.

Todo fã adolescente de rock gosta de economizar a sua grana para comprar o disco da sua banda favorita, que por conta dos downloads, isso é raro de se ver hoje em dia. Qual foi o primeiro CD que você comprou com seu suado dinheiro?
ACM: Não foi CD, foi LP. Eu tenho todos eles até hoje, que são muitos discos clássicos. O primeiro mesmo, e que eu acabei de falar, foi o Killers do Alice Cooper, mas têm vários outros, que são do Led Zeppelin, Deep Purple e mais série de outros que eu tenho em vinil original. Apesar que, também, tenho em CD.

Por Gabriel Arruda da Silva

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