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1 de out. de 2012

Entrevista com Carlos Chiaroni - Dono da Animal Records (Parte 2)







Voltando a falar da loja, como surgiu a ideia de abrir a Animal Records?

Carlos: Eu já expliquei isso naquela entrevista que eu dei no Lokaos Rock Show. Eu sempre tive o sonho de montar uma loja de Cd, e a Animal Records veio através de um trabalho de escola, onde eu fui apresentar uma loja de disco. E foi ai que surgiu a oportunidade que acabou rolando e estou há 20 anos na Animal Records, que é o meu trabalho.

A loja se concentra somente nas vendas de CD/DVD de Hard, Heavy Metal e Classic Rock. Já teve cliente que já apareceu na loja perguntando se tem cd do U2 ou de bandas de Pop Rock, Emo, Punk e Alternativo?

Carlos: A maioria do pessoal, às vezes, que vem aqui na Galeria do Rock não conhece e não tem aquela educação musical de olhar para uma loja e ver só discos de Heavy Metal. Aí eles entram e perguntam coisas absurdas, como Raul Seixas, Música Clássica, Pavarotti achando que aqui é um Shopping de Cd. Mas, na realidade, não é isso. Acontece, e que todo mundo brinca comigo, foi o cara perguntando o que eu tinha do U2 e falei com raiva:" Eu não gosto do U2, acho uma bosta!" Nunca vendi discos deles na loja e nunca pedi para ter outros tipos de Cd, eu trabalho mesmo com Hard Rock/Heavy Metal porque é meu foco. E tem gente que vira e mexe que pedem Bring The Horizon, Escape The Fate, Blink 182 e falo que eu não tenho. Só trabalho com Hard e Metal.

É notório hoje em dia as pessoas reclamarem que o preço do CD/DVD é um absurdo! Teve gente que já entrou aqui fazendo um pedido e ficou assustado com preço e depois foi embora?

Carlos: Vamos por partes nessa pergunta, que é uma pergunta muito inteligente a sua sobre a realidade no mercado. Se você vai ao Shopping Center e vai comprar uma camisa, da Hering, você vai pagar 90 reais na camiseta. Na minha época, a Hering servia para você dividir os times de futebol para fazer racha de uma rua contra a outra porque era muito barato! Só que ninguém dá o valor para o Cd no sacrifício que é você ir buscar e trazer o Cd daquela banda que só saiu na Finlândia, na Suécia e na Holanda, então, existe um custo para trazer um Cd. E, da mesma forma, existe um trabalho renumerado nas vendas desses Cds. Várias pessoas, que a maioria é sem noção, chegam aqui, perguntam e fazem mímicas de que eu estou dando uma facada. Eu falo para todo mundo que o Cd não é caro! É você que está fora da realidade ou você não tem dinheiro.. E muitos pais que vem com seus filhos dão 20 reais para o moleque querendo um Cd importado, que custa na faixa de 70/75 reais e um Europeu na faixa de 80/85 reais. Esse é o preço do mercado e da realidade a gente não consegue vender por menos. E, felizmente, tem gente que entende, que conhece e tem gente que é completamente sem noção. O único caso que aconteceu é do cara chegando aqui na loja, totalmente nada a ver, pedindo um bootleg que tinha alemão do Guns N' Roses, que era um DVD raro que custava caro naquela época (100/120 reais) que o cara pegou e me chamou de ladrão. Ai eu xinguei ele, a mãe dele e detonei. Ele não tinha esse direito de me chamar de ladrão. Se ele não tem dinheiro para comprar, vai embora! Mas é normal isso, faz parte do comércio. Foi o único caso que aconteceu durante esses 20 anos. 
 
Além de ter fundado a Animal Records, você promoveu um evento chamado Hard N' Heavy. O que consistia esse projeto e se há esperança de voltar a ativa novamente?

Carlos: É obvio que eu criei a Hard N' Heavy aqui no Brasil, isso já existia nos EUA e que notifiquei para todos. Era uma festa muito divertida, onde as meninas faziam strip-tease, tinha duas bandas tocando, o clima era bem legal, eu era o DJ, só tocava Hard/Heavy. Era uma festa bem bacana, que aconteceu até 2007. Eu não curto muito rotina, achei que a festa não estava trazendo nada novo e as pessoas deixaram de ir para ver as meninas para começarem a exigir bandas. Quando eu fiz a última com o Pink Cream 69 e o Glenn Hughes, eu vi que no ar que as meninas não eram mais o atrativo principal da festa e sim as bandas. E foi aí que decidi parar, porque não tinha mais motivação para fazer. Só que, ultimamente, eu tenho frequentado pouco a noite e vejo baladas de Hard Rock que são totalmente deprimentes, que querem imitar aquilo que eu criei e que fiz trazendo meninas e colocando pole dance. No Manifesto Bar tem o pole dance, mas as pessoas que vão lá  para se divertir de outro ideal e não o Rock. Esse meu parceiro Edu, que faz som lá, concordou comigo a respeito disso. Falta no ar hoje aquele encanto que existia na Hard N' Heavy, que a galera ficava ouvindo som e que era Rock N' Roll total. Ninguém ia lá com o objetivo de ir ver as meninas, as bandas e de ir se divertir. Pode trazer a Hard N' Heavy de volta? Pode. Estou com vontade de fazer a Hard N' Heavy de novo, só que com essa 'avalanche' de shows aqui no Brasil você não acha um tempo e o lugar legal para poder mostrar para todo mundo o que era uma festa de Hard Rock, que modéstia à parte, aqui no Brasil, aconteceu um evento bacana. A Hard N' Heavy teve edições muito legais e que ficaram na história para quem foi e curtiu.

Você também trouxe alguns dos grandes nomes do Hard Rock americano, que é o Winger e o Warrant. Conte um pouco da sua memória sobre aqueles shows.

Carlos: O Warrant foi o primeiro show que eu fiz. Eu tentei criar um modelo de show acústico aqui no Brasil para ter uma diminuição de custos trazendo só alguns membros da banda. E foi uma grande experiência, eu aprendi muito. Não foi uma empreitada lucrativa. Eu fiz dois shows do Warrant aqui em São Paulo, quem pôde ir teve a única chance de ver o vocalista Jani Lane e que, também, tive a chance de recebê-lo aqui na loja (N.R.: Jani Lane faleceu em outubro do ano passado por uma intoxicação alcoólica). Foi o preço que eu paguei para aprender a fazer show e que, dali, eu me tornei um profissional. Eu não sou produtor de show, para falar a verdade, não curto muito fazer shows. Só gosto de criar eventos e esses tipos de coisas. Fazer show é uma empreitada que não me agrada. Como sempre falei: "esse meio de shows é o meio mais sujo, hipócrita e falso que existe dentro do universo do Rock": é produtor querendo ferrar o outro, toda hora aparece produtor caindo de paraquedas, produtor fazendo leilão e etc. E foi legal essa duas experiências. A do Kip Winger nem tanto, não foi uma vibe boa. Agora o Warrant, eu tenho muitas lembranças. Tem músicas que eu escuto e lembro-me daquela noite, lembro-me do Jani Lane... E depois eu fiz outros shows, que foram mais legais. Esse foi o preço que eu paguei para ser produtor de show.   

É claro que a Animal Records é uma das grandes lojas que têm na Galeria do Rock. Quais foram os clientes mais bizarros que já passaram por aqui e que rendeu muitas gargalhadas?

Carlos: Teve um cara que começou a cantar uma música e não sabia a letra, e todo mundo ficou rindo e o cara se empolgando. Fo ridículo aquele dia, falando nomes de bandas errado: Queenxiche (Queensrÿche), De Purpos (Deep Purple), Gus Roces (Guns N’ Roses). Tem cara que pergunta coisas totalmente nada a ver, mas isso aí hoje a gente até releva porque, esses caras, até deixaram de vir aqui na Galeria do Rock. 

Não podemos esquecer que você já recebeu visitas ilustres dos grandes nomes do Hard Rock e Heavy Metal. Quem são eles e quem você sonha ainda batendo na porta da Animal Records?

Carlos: Eu já tive aqui a presença de várias bandas, eu vou te falar todos: Kip Winger, Jani Lane, Marty Friedman (Megadeth), todos integrantes do The Talisman, Ritchie Kotzen com a formação de 2004 que tinha o baterista Pet Torpey, tive aqui L.A. Guns, Faster Pussycat, Crazy Lixx, Crashdïet, Tüff, Iced Earth, Exciter, Eric Martin (Mr. Big), Texas Hippie Coalition, Marck Ramone, Timo Koltipeto e o Timo Tollki do Stratovarius que firacaram conversando comigo um tempão. E é gratificante você receber seus ídolos, porque eles entram na sua loja e fala assim: - "Poxa, esse cara ainda tem o romantismo e a ideia queimando dentro da loja dele'. Porque o cara não viu Nirvana e Avenged Sevenfold, então eles acham legal isso. O guitarrista do Death Angel, Roby Cavestany, ficou aqui comigo quase uma hora e meia conversando e eu mostrando as coisas para ele. E ele não acreditava que aqui no Brasil tinha uma loja que dava ênfase total a esse tipo de som, e isso foi muito gratificante porque é um ídolo. Quem eu queria que entrasse aqui na minha loja, e que eu já falei isso na entrevista do Lokaos Rock Show, é o Sammy Hagar, que é um cara que eu adoro. Eu ficaria muito feliz se o Zakk Wylde viesse aqui, que também é um ídolo. Ron Keel, que hoje é meu amigo, mas é um cara que sou fã. E por que não Gene Simmons, Paul Stanley e Ace Frehley? Isso seria um sonho impossível de se realizar. Mas, desses 3, eu gostaria muito.
 
A luz esta acessa para uma possível visita do Zakk Wylde, que no caso seria em novembro porque o Black Label Society irá fazer alguns shows em terras brasileiras.

Carlos: Ele não vai vir aqui na Galeria do Rock. Infelizmente a cultura do povo brasileiro não dá essa chance do artista fazer o que ele quer - quem me falou isso foi o Duff Mckagan (ex-baixista do Guns N' Roses). Encontrei com o Duff no Sweden Rock Festival, na Suécia, e ele ficou horas conversando e batendo papo com grupos de brasileiros numa tranquilidade do caramba. E ele falou que quando ele entra no Hotel tem nem nego puxando o cabelo dele, nego querendo pegar nele e querendo conversa com ele. Acho que esse tipo de atitude do brasileiro que mostra esse calor, de uma forma ou de outra, assusta o artista. Se você falar para o Zakk Wylde que tem um lugar com tantas lojas de discos, tatuagens e roupas, aposto que ele vai querer vir na hora! Mas, obviamente, alguém vai querer brecá-lo, vai querer pedir foto, autógrafo etc. Isso não é uma coisa normal, mas seria um prazer tê-lo aqui na Animal Records. E o baterista da nova formação do Guns N' Roses, Frank Ferrer, também visitou a loja.


Desde fevereiro, a loja entrou em parceria com o Lokaos Rock Show para abrir o quadro "Lokaos Lançamentos" junto com o Bento Mello, que mês a mês comenta os principais lançamentos. Isso é uma maneira de chamar mais atenção para quem não conhece a loja e também para quem está começando a ouvir Hard Rock e Heavy Metal?

Carlos: Em nenhum momento eu quero me promover pessoalmente, que falam que o Carlão é isso e aquilo. A ideia do Lokaos Lançamentos é trazer o cliente na loja, mostrar para ele que ainda tem uma chama queimando, mas isso é difícil hoje em dia. Você pega várias pessoas que não tão nem ai em comprar disco, eles querem é baixar e ter as vantagens. E a música física deixa de ser importante, que passa a ser uma coisa secundária. A ideia do Lokaos Lançamentos é, exclusivamente, trazer o cliente para a loja. Conhecer a Animal Records, eu não me preocupo, quem gosta da música que eu vendo sabe que eu existo. Pode, às vezes, não comprar de mim ou comprar de outro. Eu não quero me promover, fazer propaganda e contar história, quero simplesmente poder mostrar e trazer o cliente de volta, porque o cliente sumiu da Galeria do Rock, da Animal Records, de outras lojas e que deixou de comprar Cd por ter vantagens menos dispendiosas e não gastando tendo a música em casa. Essa é a ideia do Lokaos Lançamentos.

Uns dos momentos desse quadro gerou muita crítica que é a sua opinião sobre o Death Metal e Black, falando que o estilo não é música que preste. Você já recebeu críticas ou gerou discórdias sobre isso?

Carlos: Outro dia eu estava lendo alguns comentários e as críticas do pessoal que assisti o Lokaos Lançamentos, e teve um cara que escreveu dizendo que eu não sou carismático e que tinha que julgar o disco de uma forma técnica. Nem fu*****! Eu falo aquilo que eu acho, a minha opinião. Não sou idiota em dizer que os caras do Dream Theater não tocam. São músicos fenomenais, mas que a música deles é insuportável isso eu posso falar. Aquilo não me agrada! Agora o que acontece com o Death Metal e Black Metal: eu não falo nada sobre o caminho que eles seguem de letras e de ocultismo, mas se eles resolveram falar sobre isso, não tem problema nenhum. O que eu digo pra você é o seguinte: eu não considero música o cara que canta da forma que o Cannibal Corpse canta, que não dá nem pra entender nada. As músicas são todas iguais, e eu não considero aquilo música e que não me agrada de jeito nenhum. Jamais eu vou colocar aquilo para ouvir! Aquilo para mim é trilha sonora de zoeira, de briga de torcida e trilha sonora de filme de terror. Eu vi o show do Cannibal Corpse no Sweden Rock Festival, seis músicas. O instrumental é muito legal, agora o vocal é insuportável. E do Black Metal, tem algumas bandas que fazem um som legal, mas não adianta: voz gutural, voz gritada, voz arrastada. Respeito, e muito, mas não considero. 

E ai gostou, então espere pela última parte que está de deixar o queixo cair!
Por Gabriel Arruda


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