Para alguns, os
adolescentes são seres em extinção. Para outros, eles tendem a prolongar sua
existência até os 30 anos
Não há nada mais controverso que um
adolescente. Com os hormônios em ebulição, o temperamento varia de uma hora
para outra. Descobertas, angústias, planos, mudanças no corpo: tudo é vivido
intensamente pelos jovens. E sempre foi assim, mesmo quando eles ainda não eram
um estrato da sociedade – sim, houve um tempo em que os adolescentes, como os
conhecemos hoje, simplesmente não existiam. A adolescência passou a ser
encarada com mais seriedade há apenas 60 anos. Mas o que o futuro reserva para
os teens? A resposta é tão controversa quanto o próprio tema. Por um lado, há
quem acredite que a adolescência tende a se prolongar até os 30 anos. Por
outro, há quem aposte que ela vai acabar. De novo.
Não faz muito tempo, a adolescência não
existia. Isto é, ela existia, mas não era percebida. As mudanças psicossociais
que caracterizam a fase sempre estiveram presentes numa faixa etária que vai
dos 12 aos 19 anos. Mas, durante muito tempo, passada a infância, o jovem já
era tratado como um miniadulto. Trabalhava, casava e saía de casa. “O conceito
de adolescente como conhecemos hoje só surgiu quando se aumentou o período em
que eles permaneciam na escola”, diz a psicanalista Diana Dadoorian. “Ele,
assim, passou a não entrar tão cedo no mercado de trabalho.”
Hoje em dia, sabemos que a adolescência
é um período marcado por importantes mudanças. Do ponto de vista biológico, há
o aumento da quantidade de pêlos e a mudança de voz. É a puberdade. Já a
adolescência em si tem mais a ver com alterações psicológicas e sociais:
aquisição de mais responsabilidades, hora de tomar decisões, transformação dos
relacionamentos com os pais e com outras pessoas.
O pediatra e hebiatra (médico
especialista em adolescente) Walter Marcondes Filho diz que a sociedade de
consumo está “adultizando” as crianças. Isso é facilmente percebido em qualquer
lugar: crianças se maquiam e agem como adultos. “Muitas crianças se vestem como
verdadeiras anãs, usando sapato de salto, piercings, pequenas tatuagens... É
uma aberração, com o consentimento dos pais e da sociedade.”
Quer dizer que os jovens estão precoces
demais? Sim. No século 18, a menarca (primeira menstruação) acontecia
geralmente aos 15 anos. Hoje aparece em média aos 12. Os adolescentes hoje têm
sua primeira relação sexual em torno dos 14 anos. “Mas muitos iniciam a vida
sexual aos 11, 12 ou 13 anos”diz Marcondes filho. Os índices de gravidez entre
eles estão aumentando e metade dos jovens entre 10 e 12 anos já experimentou
álcool.
Por conta dessa precocidade toda,
alguns pesquisadores acreditam que a adolescência pode acabar de novo: as
crianças vão voltar a pular da infância para a vida adulta. Diana Dadoorian é
autora do livro Pronta para Voar – Novo Olhar sobre a Gravidez na Adolescência
(Rocco, 2000). Nele, a psicanalista aponta que adolescentes de famílias mais
pobres engravidam não porque são mal informadas, e sim porque querem. Mães,
elas se transformam em mulheres e conquistam um novo papel no seu meio
socioeconômico. No entanto, a própria Diana discorda da teoria do fim da
adolescência. “Percebo hoje em dia, e também aponto como tendência para os
próximos anos, que os jovens têm um tempo diferente de adolescência em função
da classe social”, diz. “Os menos privilegiados entram mais cedo no mercado de
trabalho, por isso têm a adolescência reduzida. Mas os aspectos emocionais que
caracterizam a fase vão existir sempre.”
Do outro lado da
pirâmide social, a psicanalista vislumbra uma outra tendência: a adolescência
tardia. Com a melhoria da qualidade da relação entre pais e filhos, muitos
jovens de classe média ou alta não precisam mais sair de casa para poder, por
exemplo, dormir com a namorada. Há também a dificuldade de manter-se sozinho
por conta dos altos custos de vida. “Eles criam uma extensão da adolescência
para a vida adulta, com toda a falta de responsabilidades que isso acarreta.
Por isso uma geração toda de jovens de até 30 anos continua morando na casa dos
pais. E vai continuar assim.”
Para Marcondes Filho, faltam políticas
públicas voltadas para os adolescentes. Ele acredita que, em 2020, estaremos
discutindo mais sobre os problemas da adolescência. “No futuro, os jovens
mudarão o país, como, aliás, já vêm fazendo. Eles só precisam que abramos
espaço para eles”, diz o hebiatra. “Eles jamais desaparecerão, porque a
sociedade sucumbiria. Seria uma sociedade inteiramente psicopática.”
Por Claudia de Castro Lima
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