-->

9 de mai. de 2013

Adolescência: Vão acabar comigo?


Para alguns, os adolescentes são seres em extinção. Para outros, eles tendem a prolongar sua existência até os 30 anos

Não há nada mais controverso que um adolescente. Com os hormônios em ebulição, o temperamento varia de uma hora para outra. Descobertas, angústias, planos, mudanças no corpo: tudo é vivido intensamente pelos jovens. E sempre foi assim, mesmo quando eles ainda não eram um estrato da sociedade – sim, houve um tempo em que os adolescentes, como os conhecemos hoje, simplesmente não existiam. A adolescência passou a ser encarada com mais seriedade há apenas 60 anos. Mas o que o futuro reserva para os teens? A resposta é tão controversa quanto o próprio tema. Por um lado, há quem acredite que a adolescência tende a se prolongar até os 30 anos. Por outro, há quem aposte que ela vai acabar. De novo.

Não faz muito tempo, a adolescência não existia. Isto é, ela existia, mas não era percebida. As mudanças psicossociais que caracterizam a fase sempre estiveram presentes numa faixa etária que vai dos 12 aos 19 anos. Mas, durante muito tempo, passada a infância, o jovem já era tratado como um miniadulto. Trabalhava, casava e saía de casa. “O conceito de adolescente como conhecemos hoje só surgiu quando se aumentou o período em que eles permaneciam na escola”, diz a psicanalista Diana Dadoorian. “Ele, assim, passou a não entrar tão cedo no mercado de trabalho.”

Hoje em dia, sabemos que a adolescência é um período marcado por importantes mudanças. Do ponto de vista biológico, há o aumento da quantidade de pêlos e a mudança de voz. É a puberdade. Já a adolescência em si tem mais a ver com alterações psicológicas e sociais: aquisição de mais responsabilidades, hora de tomar decisões, transformação dos relacionamentos com os pais e com outras pessoas.

O pediatra e hebiatra (médico especialista em adolescente) Walter Marcondes Filho diz que a sociedade de consumo está “adultizando” as crianças. Isso é facilmente percebido em qualquer lugar: crianças se maquiam e agem como adultos. “Muitas crianças se vestem como verdadeiras anãs, usando sapato de salto, piercings, pequenas tatuagens... É uma aberração, com o consentimento dos pais e da sociedade.”

Quer dizer que os jovens estão precoces demais? Sim. No século 18, a menarca (primeira menstruação) acontecia geralmente aos 15 anos. Hoje aparece em média aos 12. Os adolescentes hoje têm sua primeira relação sexual em torno dos 14 anos. “Mas muitos iniciam a vida sexual aos 11, 12 ou 13 anos”diz Marcondes filho. Os índices de gravidez entre eles estão aumentando e metade dos jovens entre 10 e 12 anos já experimentou álcool.

Por conta dessa precocidade toda, alguns pesquisadores acreditam que a adolescência pode acabar de novo: as crianças vão voltar a pular da infância para a vida adulta. Diana Dadoorian é autora do livro Pronta para Voar – Novo Olhar sobre a Gravidez na Adolescência (Rocco, 2000). Nele, a psicanalista aponta que adolescentes de famílias mais pobres engravidam não porque são mal informadas, e sim porque querem. Mães, elas se transformam em mulheres e conquistam um novo papel no seu meio socioeconômico. No entanto, a própria Diana discorda da teoria do fim da adolescência. “Percebo hoje em dia, e também aponto como tendência para os próximos anos, que os jovens têm um tempo diferente de adolescência em função da classe social”, diz. “Os menos privilegiados entram mais cedo no mercado de trabalho, por isso têm a adolescência reduzida. Mas os aspectos emocionais que caracterizam a fase vão existir sempre.”

Do outro lado da pirâmide social, a psicanalista vislumbra uma outra tendência: a adolescência tardia. Com a melhoria da qualidade da relação entre pais e filhos, muitos jovens de classe média ou alta não precisam mais sair de casa para poder, por exemplo, dormir com a namorada. Há também a dificuldade de manter-se sozinho por conta dos altos custos de vida. “Eles criam uma extensão da adolescência para a vida adulta, com toda a falta de responsabilidades que isso acarreta. Por isso uma geração toda de jovens de até 30 anos continua morando na casa dos pais. E vai continuar assim.”

Para Marcondes Filho, faltam políticas públicas voltadas para os adolescentes. Ele acredita que, em 2020, estaremos discutindo mais sobre os problemas da adolescência. “No futuro, os jovens mudarão o país, como, aliás, já vêm fazendo. Eles só precisam que abramos espaço para eles”, diz o hebiatra. “Eles jamais desaparecerão, porque a sociedade sucumbiria. Seria uma sociedade inteiramente psicopática.”

Por  Claudia de Castro Lima

Nenhum comentário: